Cultura à venda? Artistas austríacos dizem não ao «Eurovisão à custa de tudo»

Nem tudo o que brilha é ouro — e nem todo palco iluminado representa boas notícias. Na Áustria, o anúncio da realização do Festival Eurovisão da Canção 2026 no país reacendeu um velho dilema: até que ponto se pode cortar na cultura para financiar um espetáculo europeu?
Mais de 600 artistas, escritores, músicos, encenadores e responsáveis por instituições culturais austríacas assinaram uma carta aberta contra os cortes orçamentais aplicados à programação cultural do canal público ORF. E o recado foi claro: a Eurovisão pode ser importante, mas não à custa da cultura nacional.
Entre os nomes que subscrevem o protesto estão figuras como Elfriede Jelinek, Maria Bill, Michael Köhlmeier, e instituições como o steirischer herbst, a Alte Schmiede, os Literaturhäuser de Viena, Graz e Salzburgo e os Wiener Festwochen.
A cultura como «verba negociável»?
O documento alerta para o risco de a cultura se tornar moeda de troca interna dentro do ORF. Com os custos elevados associados à produção da Eurovisão — especialmente após anos de contenção financeira, investimento digital e a recente mudança para um modelo de financiamento por taxa doméstica — os signatários receiam que se opte por «tapar buracos» com verbas que deveriam ir para projetos culturais estruturais.
A indignação não é só simbólica. Programas como o «Topos» estão em risco, jornalistas experientes estão a abandonar a estação e as rubricas culturais do site ORF ON, noutros tempos vibrantes, agora aparecem… vazias. Literalmente.
Eurovisão sim, mas com juízo
O caso da «Große Chance der Blasmusik», um concurso popular de bandas, suspenso por causa da Eurovisão, tornou-se um exemplo paradigmático do que está a preocupar o sector artístico: o entretenimento em horário nobre a abafar a diversidade e a profundidade da produção cultural.
E no meio de tudo isto, os responsáveis da ORF ainda não revelaram onde será realizado o evento de 2026 — se em Viena ou Innsbruck. Mas uma coisa é certa: os artistas austríacos querem luzes nos palcos, sim, mas não à custa de deixar a cultura nacional às escuras.
Fonte: Kurier