RÚV não brinca: Islândia pode apoiar exclusão de Israel do Festival da Eurovisão

Se alguém achava que a Islândia era só fjords e sweaters de lã, convém prestar mais atenção ao que se passa no conselho de administração da RÚV, o canal público islandês. Numa reunião realizada a 28 de abril, a estação deixou bem claro: se a União Europeia de Radiodifusão (EBU) avançar com a proposta de excluir Israel da Eurovisão, pode contar com o voto favorável dos islandeses.
A referência? Simples: o precedente de Rússia e Bielorrússia, que já foram afastadas do certame devido às suas acções políticas. E se foi aceitável nesses casos, pergunta a RÚV, por que não agora?
Segundo a ata da reunião, a RÚV apoia a exclusão de Israel «caso a proposta seja apresentada a nível da EBU, devido às ações do governo israelita contra os habitantes da Faixa de Gaza». E sim, há uma nuance importante: isto não é (ainda) uma decisão unilateral, mas uma disposição clara de apoiar a ideia, caso avance.
A Eurovisão já não é só canções e lantejoulas
Entretanto, e como se tudo isto não bastasse, vários canais europeus — entre eles a RTVE (Espanha), a Yle (Finlândia), a RTÉ (Irlanda), a VRT (Bélgica) e claro, a própria RÚV — pediram à EBU que lhes mostrasse os números reais da votação da Eurovisão 2025. A dúvida paira: será que o televoto foi mesmo transparente?
Na Holanda, os canais AVROTROS e NPO foram ainda mais longe e levantaram questões sobre o estado geral do concurso. Ou seja, para 2026, não é só o país anfitrião que está em aberto — é toda a estrutura da Eurovisão que está a ser posta em causa.
E para pôr um laço nesta caixa de Pandora, o director do Festival, Martin Green, publicou a 23 de maio uma carta aberta a todos os membros. Entre as promessas: análise dos votos, avaliação da promoção dos artistas e — a cereja no topo do drama — uma possível limitação do número de votos do público para 20. Sim, vinte. Nem mais um.
Um festival ou um tabuleiro geopolítico?
Com a final da Eurovisão 2025 já arrumada (a 17 de maio) e a corrida para definir o país anfitrião de 2026 em andamento, a EBU tem agora um novo quebra-cabeças: como manter um concurso «apolítico» quando os seus próprios membros já não fingem que o mundo lá fora não existe?
Por agora, a Islândia mantém-se fria na meteorologia, mas bastante quente no debate. E se há coisa que não se pode negar, é que neste festival, até o silêncio é uma tomada de posição.
Fonte: Eurovoix