Eurovisão sob revisão: Noruega quer travar votos em massa e pressionar a UER a mudar regras

A Noruega já não aguenta mais: cansados de ver o Festival da Eurovisão transformado num campo de batalha político e numa feira de televotos coordenados por embaixadas, os senhores e senhoras da NRK decidiram bater com o martelo e pedir, com elegância nórdica, que se acabe o circo. Ou, pelo menos, que se mude a lona.
No último Conselho de Radiodifusão norueguês, o chefe da delegação da NRK, Mads Tørklep, foi claro como água das montanhas: “Queremos regras que mantenham a competição apolítica.” Um pedido simpático, se considerarmos que em 2024 houve 80 votos dirigidos a Israel por parte de pessoas que – e aqui é que está a comédia – nem sequer viram o programa. Parece piada, mas não é.
Até 20 votos por cartão de crédito? Sim, leu bem.
Actualmente, é possível votar até 20 vezes por cartão de crédito e mais 20 vezes por número de telefone. Uma verdadeira Black Friday de votos. Tørklep, que não é ingénuo, vê aqui espaço para campanhas coordenadas e manipulações em escala eurovisiva. Para os mais nostálgicos, isto soa a Eurovisão versão reality show: quem tiver mais cliques e menos escrúpulos, ganha.
Transparência à moda da UER: “Não podemos mostrar os números”
Quando a NRK pediu para ver os dados dos votos noruegueses, a resposta da União Europeia de Radiodifusão foi digna de um filme de espionagem: não pode ser, pois alguém podia descobrir como manipular o sistema. Ironia das ironias, não mostrar os dados para evitar manipulação… parece-se muito com esconder manipulações.
Israel no centro da tempestade
A maioria das 97 reclamações recebidas pelo conselho norueguês referiam-se ao caso israelita. A campanha de apoio foi colossal: YouTube, redes sociais, e até anúncios em Times Square. Sim, leu bem. Israel levou o marketing eurovisivo a um nível de Super Bowl.
E, apesar de tudo, a UER mantém que o apoio estatal não viola nenhuma regra. Pois claro. É como dizer que trazer uma bazuca para um jogo de paintball está dentro das normas – tecnicamente, não há lei que o proíba, mas talvez devêssemos repensar o regulamento.
Noruega pressiona, mas não manda
As mudanças serão discutidas no grupo de direcção da UER – onde, claro, a Noruega não está representada. O que é quase poético: quem grita mais alto é deixado de fora da reunião. O resto dos países voltará a encontrar-se em outono na Croácia. Até lá, os votos continuam a somar e a dúvida permanece: isto ainda é um concurso musical?
Fonte: VG