Nice em modo “Luzes, Câmara… Polícia!” – Como a Eurovisão Júnior e um pseudo-cimeira climática puseram a Riviera na mira da Justiça

Se pensava que a Côte d’Azur era só iates, gelados e selfies em modo pôr-do-sol, prepare-se para um cocktail bem mais picante. O autarca de Nice, Christian Estrosi, e a sua mulher, a apresentadora Laura Tenoudji, trocaram a passadeira vermelha do Promenade des Anglais por umas confortáveis cadeiras na esquadra de Marselha. Motivo? Alegada gestão criativa de dinheiro público nos bastidores de dois eventos cintilantes: a Eurovisão Júnior 2023 e o Nice Climate Summit.
O guião do escândalo: quando a conta sai salgada
- Eurovisão Júnior: 605 000 € pagos pela autarquia para receber o concurso infantil, coroado com Laura Tenoudji a apresentar a cerimónia de abertura.
- Nice Climate Summit: conferência “verde” co-organizada pelo jornal La Tribune, novamente regada por subsídios municipais generosos – e, imagine-se, com Laura escalada para moderar painéis (até a polémica rebentar).
Resultado? O Ministério Público viu luzes, mas não as de palco: abriu inquérito por desvio de fundos públicos, conflito de interesses e falsificação de documentos.
Elenco de luxo… agora em modo depoimento
Além do casal Estrosi, a investigação chama ao palco:
- Delphine Ernotte-Cunci, presidente da France Télévisions, por ter transmitido a gala.
- Altos quadros da TV pública e de La Tribune.
- Vários técnicos e assessores cuja principal fala é: «Sem comentários».
A novela tem, portanto, mais convidados especiais que final de Big Brother.
“Investimento em prestígio” ou karaoke à custa do contribuinte?
A defesa de Estrosi é simples: «Cada euro gasto rende visibilidade global para Nice». Mas a acusação contrapõe: visibilidade, sim, mas talvez dos relatórios do Tribunal de Contas. Afinal, quando a apresentadora oficial do evento é também primeira-dama municipal, o conceito de independência sofre mais que balada eurovisiva em terça-feira chuvosa.
Riscos colaterais: Riviera em modo damage control
Se as suspeitas se confirmarem, Nice pode ver derreter-se a sua reputação “eco-friendly” e perder futuras candidaturas a eventos internacionais. Cidades rivais (olá, Cannes!) já afiam dossiers turísticos – porque quem nunca teve um escândalo, que atire o primeiro dossier de candidatura.
No fundo, esta história lembra-nos que, entre purpurina e papelada, há uma linha tão fina como a massa de uma tarte Tropézienne: fácil de rasgar quando se mistura política, família e dinheiros públicos. Se Estrosi sairá em falsete judicial ou voltará ao palco principal, só o tribunal dirá. Por ora, liguem-se à emissão: a Riviera promete mais reviravoltas do que um refrão eurovisivo em contracapa.
Fonte: France 3